Escalda-pés

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pensamentos e Deidades

No estudo de Vendanta manas, buddhi, ahamkara e também cittam, traduzido aqui como memória* são os diferentes tipos de pensamentos que constituem a mente como um todo (antahkaranam – instrumento interno). É dito que a natureza de manas (mente que deseja) é a oscilação entre dois pensamentos opostos que estão em constante mutação. A natureza de buddhi (intelecto) é a determinação, uma vez que é um tipo de pensamento de caráter decisivo. A natureza de ahamkara (ego) é a afirmação centrada no “eu”. Chittam é aqui traduzido como a memória, o arquivo das informações do passado, também uma forma de pensamento que apresenta oscilação em sua natureza. (Para compreender melhor os pensamentos, leia o texto A importância pessoal.
Cada pensamento está relacionado com uma deidade. Mas o que é deidade?
No meu primeiro estudo de Vedanta, através do livro Tattvabodhah de Sri Sankaracarya, traduzido e comentado por Glória Arieira, é dito que a visão de que existem diversos deuses para os Vedas é um engano. Existe um único Deus (Isvara), aquele que tudo governa, e diversas deidades (Devata), as quais representam aspectos ou determinadas funções em nossos corpos ou no Universo. A palavra devata significa deidade e se origina da raiz verbal div que quer dizer 'brilhar' (Arieira, 2006). Na cultura védica, Brahma, Shiva e Vishnu são três aspectos diferentes do mesmo Deus. Essas três representaçãoes formam o conhecido Trimurti e compoe o equilíbrio.
Cada um destes aspectos é responsável por cada uma das três maneiras com que age a natureza material: criação, preservação e destruição. Quando há criação, geração, procriação, Brahma é o responsável. Quando há estabilidade, manutenção, preservação, equilibrio, Visnu é o responsável. Quando há destruição, dissolução, desgaste, Siva é o responsável
A essência do microcosmos (ser humano) é a mesma do macrocosmos (Universo). Segundo Arieira, 2006, toda capacidade do nosso corpo é uma capacidade inerente ao universo e que também se manifesta no indivíduo. Assim Brahma, o Criador é a deidade que governa buddhi, sendo que buddhi (o intelecto) tem a capacidade de criar. Vasudeva (Visnu), o preservador, governa chittam, preservando as informações na memória. Rudra (Siva), o destruidor, governa ahamkara (o ego), uma vez que o ego deve ser destruido através do conhecimento do verdadeiro eu. A Lua é a deidade que governa manas, estando relacionada com sua característica de mudança de fases.
Para conseguirmos compreender o todo e assim nos relacionar com Deus, Ele é percebido e narrado em seus diversos aspectos . Dessa mesma maneira Bri Maya Tiwari fundadora da Wise Earth School, clínica ayurvédica e naturalista, na Carolina do Norte no traz em seu livro O caminho da prática, palavras da própria Mãe citada no livro medieval Shakta Advaita:

“Quem e o que eu realmente sou - uma consciência cósmica tão vasta que
posso manter sem esforço trilhões de universos na palma de minha mão -
está além da capacidade da mente humana de entender. Portanto,
imagine-me da forma que gostar mais, e prometo que virei até você
nesta forma.”

Assim como Deus, a Mãe Divina,  recebe diversos nomes em tantas culturas diferentes: Kali, Durga, Saraswati, Gaia, Afrodite, Virgem Maria, Iemanjá, etc... A Mãe Divina é uma, e todos esses nomes representam um aspecto ou função em nosso corpo ou Universo. Sempre quis compreender melhor quem é a Mãe Divina e foi quando li esta frase que pude compreender que a Mãe é aquela que gera, nutre e cuida. E que cada uma dessas manifestações traz uma caracteristica diferente, sendo que cabe a nós avaliar qual a característica que precisamos fortalecer, e dessa maneira nos conectar e pedir à nosso Pai ou à nossa Mãe, nos envolvendo com a energia do Divino da maneira que nos for mais familiar.


Bilbiografia
Tattvabodhah -Sri Sankaracarya, Rio de Janeiro: Vidya-Mandir, 2007.122p
O caminho da prática -Bri Maya Tiwari, Carolina do Norte: Wise Earth School
* No texto, A importância pessoal, podemos ver que, por outros autores, chittam pode significar o conjunto todo da mente.

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